terça-feira, 25 de janeiro de 2011

o bóne

 


O senhor Alípio foi comprar um boné. O que usava já tinha perdido a cor de tanto sol e tanta chuva que apanhara. O senhor Alípio trabalhava ao ar livre, nas obras, é preciso que se saiba.
- Quero um boné com pala - pediu o senhor Alípio, quando chegou à loja.
O caixeiro da loja terá pensado que todos os bonés têm pala. Sem pala, só boinas. Ou barretes. Mas não comentou.
- Que tal um destes azuis, acabados de chegar da fábrica? - perguntou o caixeiro.
O senhor Alípio provou, viu-se ao espelho e não gostou.
- E este, com quadradinhos castanhos?
O senhor Alípio provou, viu-se ao espelho e não gostou.
- E este verde escuro?
O senhor Alípio provou, viu-se ao espelho e não gostou
- E este às risquinhas encarnadas?
O senhor Alípio provou, viu-se ao espelho e não gostou.
O caixeiro começava a achar que aquele freguês não era fácil de contentar. Sobre o balcão, um monte de bonés abandonados... O senhor Alípio já se dispunha a sair em cabelo, muito desconsolado, se não tivesse visto, no meio dos bonés rejeitados, um que lhe chamou a atenção.
Provou-o, viu-se ao espelho e gostou:
- Levo este.
- Mas é o que o senhor trazia na cabeça, quando entrou na loja - disse-lhe o desolado caixeiro.
- Ai, é? Levo na mesma - e saiu da loja, muito satisfeito, com um boné ou cinzento deslavado ou castanho ruço ou antes assim-assim.

Sem comentários:

Enviar um comentário